terça-feira, 30 de julho de 2013

A Rosa e a Caveira

Tua aparência reflete a dor
Teu odor reflete o prazer
Em teu ventre está a criança
Com o dom do destino

Caminha nas trevas
Mas não perde sua luz
A guarda com cuidado
Dentro de uma caveira

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Ser Ou Não Ser

Ser ou não ser
A questão além de mim
Da sociedade hipócrita
Que reprime o meu querer

Definitivo estado de inércia
Um completo ninguém
Inútil, compacto, descartável
Proibido até mesmo e ter pressa

sábado, 20 de julho de 2013

Prometheus

Pobre humanidade
Não era para ser assim
Carente de virtudes é teu ser
Saturada de ignorância é tua sociedade

Enquanto isso os Céus gargalham
No Paraíso tudo é perfeito
Os Deuses não tem piedade
Das luzes que aqui se apagam

domingo, 14 de julho de 2013

Somente Uma Sexta Feira

  Um dia simples e comum onde tudo dá a entender que permanecerá do jeito que está, pode acabar se tornando algo inimaginável. E foi assim que tudo começou na manhã nublada de uma sexta-feira quase qualquer. Serena acabara de acordar e após tomar banho, se dirigia à cozinha.

  Lá, encontrou um bilhete do qual não se lembrava e dizia o seguinte: "Chego na tarde de sexta, espero que nada tenha mudado". Não se recordou à quem o bilhete se referia, pois ao escrevê-lo, achou a mensagem suficiente. Decidiu ver TV, na esperança de que relaxar traria sua memória à tona. Ao ver um filme matinê sobre dois amigos que juraram nunca se separar, espantou-se com o que veio a sua mente.


— Gabriel vem me ver. Depois de esperar tanto, ele realmente vem me visitar. Como pude ser tão boba a ponto de esquecer?!

  Seus olhos brilhavam como uma gota d'agua ao refletir o sol. Mal podia esperar para que a pessoa que passou a infância ao seu lado pudesse lhe abraçar de novo, como há anos atrás.
  Ao arrumar seu quarto, encontrou um par de algemas que ganhou de sua melhor amiga, lhe trazendo recordações da ocasião: "Não importa o quão retraído possa ser, todo homem adoraria algemar uma mulher. Ou pelo menos toda mulher adoraria que seu homem algemasse-a".
  Por simples segundos, Serena se perdeu em sonhos eróticos que em sua cabeça duraram uma eternidade de prazer ilusório. Ao direcionar seu olhar para o relógio em sua estante percebeu o real tempo que já havia perdido.

— Meu Deus! Já são 14h, não acredito que sou tão distraída. Não achei que arrumar meu quarto levaria tanto tempo. Preciso tomar outro banho, achar o que vestir, arrumar meu cabelo e me maquiar. Preciso me apressar.

  Rapidamente se dirigiu ao banheiro, no qual tomou um banho rápido. Saiu mal seca do banheiro e foi para o quarto, sem se dar conta da pequena trilha de pegadas molhadas que deixou pelo caminho. Logo buscara a roupa mais bela para fazer jus ao seu amigo.

— Achei minha saia! Mas onde está minha camisa preta decotada? —Lembrou de tê-la deixado na varanda, secando.

— Aaaahhhhh!!! Não acredito nisso. — Exclamou Serena ao ver que o repentino vento havia embaraçado seu cabelo. Seus olhos reluziam enquanto lágrimas lhe subiam e dizia:

— Alguém realmente pretende detonar meu dia.

  Porém, não pretendia deixar que esses imprevistos a impedissem de ter um dos melhores dias de sua vida. Pegou seu secador de cabelos e sua escova e determinada a ficar linda, atraente, como Gabriel lhe dizia brincando que ela nunca seria. E após 30 minutos de incessante trabalho, seu cabelo estava perfeito. Já eram 16h quando ela terminava de se maquiar e a campainha tocou. Correu até a porta com seu coração acelerado, suas mãos trêmulas mal conseguiram girar a maçaneta. Enquanto a porta se abria, formava-se a imagem de um novo corpo onde habitava a alma de uma pessoa que ela conhecia há anos.

— Oi, Serena! - Disse Gabriel, enquanto sorria suavemente.

“Você tem que dizer alguma coisa. Deixa de ser besta” - Pensava ela, enquanto perdia a fala mediante a presença de Gabriel. Foi quando ela pulou em direção dele e o abraçou. Tudo que podia pensar era como aquele momento era mágico.

— É muito bom ver você.

— Que bom. Por um momento achei que fosse a casa de uma mudinha. — Disse ele enquanto não conseguia desviar o olhar do decote de Serena.

— Bobo. Não cansa de me provocar? Entra logo. — Disse ela enquanto sorria pelo canto da boca.

  Sentaram no sofá e começaram a conversar as mais diversas coisas.

— Nunca pensei que um dia você fosse ter músculos. — Comentou Serena com um enorme sorriso no rosto.

— Nem eu pensei que você fosse trocar suas varetas por pernas. - Disse Gabriel com cara de cínico.

  Os dois riram, e por horas conversaram sobre a época em que estiveram separados e até os biscoitos de Serena agradaram a Gabriel, que não fazia idéia que ela pudesse ser alguém tão caseira. Anoiteceu e antes que ele fosse embora, ela queria-lhe mostrar seu quarto. Sem perceber lhe apertou forte a mão e o puxou. Infelizmente foi inevitável que os dois escorregassem na poça d'água deixada por Serena. E na tentativa de se equilibrar, ela acabou na parede, presa pelos braços de Gabriel.
  Por longos instantes se olharam nos olhos e disseram:

— Acho que não dá mais pra fingir que você é a mesma garotinha de anos atrás.

— Então melhor a gente começar a brincar como gente grande.

  Então pela primeira vez, eles se beijaram e sentiram um desejo que nunca imaginaram sentir um pelo outro. Foram em direção ao quarto, onde Serena não conseguia separar sua boca da dele. Ele puxou seu cabelo e mordeu seu lábio. Sentia-se bem e começou a tirar a camisa de Gabriel.
  Seus rostos se aproximavam e suas respirações se entrelaçavam na cama como se eles fossem um só. Ela mordia o pescoço dele com tamanha força que causava uma dor extremamente prazerosa.
  Lentamente, ela descia sua boca pelo seu peito e logo começou a tirar o cinto de sua calça e puxá-la. Com delicadeza ela o masturbava e então passava a língua envolta do seu pênis. Ele não conseguia raciocinar em tal situação com sua melhor amiga. Colocou a mão sobre a cabeça dela e lentamente a empurrava. Nunca pensou que a boca dela poderia ser tão prazerosa.
  Foi quando a puxou pra cima, decidido a dar a ela a melhor sensação de sua vida. Tirou sua blusa e começou a morder seu seio esquerdo, enquanto massageava seu seio direito. Ele se deliciava com os gemidos que ela tentava abafar enquanto mordia os lábios. Deslizou suas mãos pelo corpo dela até colocar três dedos dentro dela e mexê-los cada vez mais rápido. Não se continha e começou a gemer cada vez mais alto. Então Gabriel levou sua boca até lá embaixo e puxou sua calcinha com os dentes. Apertou suas pernas com força e subia sua língua quente pela perna dela até adentrar seu corpo. Serena se retorcia de prazer enquanto soltava leves gritos de excitação.
  E foi enquanto puxava o lençol com as mãos, percebeu que tinha deixado as algemas em cima da cama. E num surto de perversão...

— Me algema na cama. Eu quero que você me domine. — disse Serena com um tom de voz imperativo.

  Ele sem hesitar algemou seu braços nas barras da cama e começou a penetrá-la devagar enquanto a beijava e lhe arrumava o cabelo. Seus olhos se encontravam e era como se um fizesse parte do outro. Enroscados nesse fetiche amoroso, nenhum dos dois sequer lembrava que um dia eram amigos, era como se estivessem se conhecendo naquele momento. Pareciam pessoas diferentes das que conheceram, mas ao mesmo tempo se deliciavam com um prazer que não poderia ser concedido por um estranho qualquer.
  Serena exclamou com uma voz suave e excitante:

— Mais forte, eu quero mais!

  Gabriel não se continha e começou a penetrá-la cada vez mais forte e mais rápido e os gemidos dela aumentavam cada vez mais, o que somente tornava cada vez motivado. Serena enroscou suas pernas no corpo de Gabriel. Foi quando ela soltou um grito extremamente alto, que sua respiração desregulada e ofegante mostrava que ela tinha atingido o prazer que desejava. Ele a soltou e já era tarde da noite, não poderia mais voltar pra casa. Foi quando se olharam e como se soubessem o que o outro pensava, se abraçaram. Os dois haviam tido a melhor noite de suas vidas... juntos. Em uma noite de lua cheia branca, cobertos com o corpo um do outro, seus maiores desejos haviam se realizado.



Como As Coisas São

Como grãos de areia
São as outras
Sem nada a oferecer
Sem nada a mais

Exatamente iguais
E invisíveis
Como o vento que passa
E não se vê

Como pedaços de carne de segunda
Não chamam atenção
E isso é culpa
De sua pobre composição

Apaixonar-se é ver o brilho que há
E esse brilho há de ressoar
Com a visão de quem for merecedor
Desse amor

No meu mundo existem duas coisas básicas
As outras que não me interessam
E você
Que é o meu mundo

Ramon Arcanjo


sexta-feira, 12 de julho de 2013

Degustação


Numa cozinha
De azulejos reluzentes
Vejo o desejo em minha sina
E me entrego a fazer dela minha

Teu corpo sobre a bancada
Minhas mãos sob tuas roupas
Minha língua sobre tua pele
E sua razão subjugada

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Da'ath

Amanhecer e perecer
Enquanto nas trevas permanecer
Inabitável ser
Que oculto está

Reserva tua luz
A carruagem que lhe conduz
E o lodo que se produz
Deixa pra trás

segunda-feira, 8 de julho de 2013

For The Love Of Gods - Hades

  Há muito tempo atrás, quando os Deuses eram venerados, ocorreu uma história.
  Hades, Senhor do Mundo Inferior, tinha um problema em suas mãos. Os amantes não queriam se separar. Nunca. Então, ao morrer, eles não atravessavam o Estinge e aguardavam na margem pelo seu amor perdido. Caronte, o Barqueiro, foi se reportar ao Deus dos Mortos:

— Meu Senhor! Com sua licença, preciso informa-lo de algo. — disse enquanto ajoelhava-se.
— Prossiga. — disse Hades em um tom indiferente.
— Dentre os mortos, há aqueles que não aceitam fazer a travessia. E é um grupo grande que aumenta constantemente. Não sei o que fazer.
— E por que eles se recusam a atravessar?
— Por amor.
— Amor? — falou Hades com uma expressão de superioridade e desdém em relação ao sentimento.
— Eles dizem que não aceitam morrer e deixar seu grande amor para trás. Que só farão a travessia no momento em que seus amados morrerem.

  Hades calou-se e levantou de seu trono para compemplar o problema pessoalmente. Passou por Caronte como se ele não existisse. Caronte o seguiu silenciosamente e embarcaram juntos no barco resposável por transportar a alma dos mortos. Apesar de ser chamado de barco, era grande como um navio. Sua aparência era de uma madeira envelhecida e queimada, suas bordas eram altas e tinham espinhos esferrujados por toda a sua extensão. Trazia, embaixo da proa, um homem encolhido com as mãos estendidas como se pedisse esmola e com o desespero no rosto esculpido em madeira.
  Chegando na margem, Hades vislumbrou uma multidão do tamanho de um vilarejo. As pessoas ficaram assustadas com a presença do Deus, mas ele não falou um palavra sequer. Talvez achasse que não valia a pena perder tempo com eles. Os Deuses respeitavam o livre arbítrio, mas não costumavam ter paciência de dialogar soluções com os mesmos. Normalmente, faziam ultimatos que davam as disputas por fim. E foi exatamente a solução que Hades achou para resolver esse problema.
  Ele se dirigiu ao mundo humano. E como a presença divina na Terra sempre traz consequências, com Hades não foi diferente. A chegada do Deus provocou o enegrecimento do céu e um irritante odor de enxofre no planeta. De repente, parecia que um vento cheio de tristeza passou nos quatro cantos do mundo e a imagem do Deus mais assustador se fez presente diante dos homens. Sua pele era branca como a de um defunto e vestia uma túnica negra que brilhava como se nela houvesse o brilho da alma dos mortos. Seu cabelo era negro como a noite e sua aparência provocava um angústia semelhante a estar próximo de um buraco negro. Sem dúvida ele era uno com a morte.
  Olhou para os humanos como se olha para um objeto qualquer, sem nenhum reconhecimento de existência, individualidade ou inteligência. Então disse de forma bem tranquila:

— Eu, Senhor do Tártaro, permitirei que os amantes morram pares, para que não mais sofram com a partida do seu amor.
  
Nesse momento, toda a Terra se alegrou com a notícia e fizeram barulho com seus gritos eufóricos. Mas Hades continuou:

SILÊNCIO! — gritou irritado por ser interrompido pela já conhecida falta de educação da raça humana.
— Mas é preciso que vocês sejam fiéis ao amor. Por isso, ensinem aos seus filhos para que ensinem aos seus netos e assim por diante. Pois no dia em que isso for esquecido, vocês sentirão a dor da perda de seu bem mais precioso novamente.

  As pessoas compreenderam o preço da graça que receberam e ficaram gratas, apesar da bondade incompreendida do Deus. E, durante séculos, tudo correu bem. Mas com o passar do tempo, as pessoas iam se tornando mais arrogantes, alguns até esqueceram dos Deuses. E tudo começou com o nascimento de Ébono. Um garoto que achava que as lendas eram besteira. Sua mãe respeitava dos Deuses e a tradição, mas seu filho fazia questão de ignorar os ensinamentos de seus ancestrais. Isso não era um grande problema, até ele se apaixonar. Sua mãe ficou preocupada com a sua conduta desrespeitosa e egoísta e tentou alertá-lo:

— Não machuque o coração dessa moça, meu filho.
— Não vou fazer nada, mãe. Pra que toda essa palhaçada? — falou ele em completo tom de desprezo para com sua mãe.
— Porque, há séculos atrás, Hades nos concedeu o dom de morrer com nosso amor, contanto que fôssemos fiéis.

  O garoto gargalhou profundamente durante longos instantes e continuou:

— Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Eu não acredito nos Deuses. Em nossa família, apenas nossa bisavó viu alguns deles em raras ocasiões. Pelo menos é o que ela contava antes de morrer. Provavelmente estava senil. A senhora sabe que não acredito nisso. E, de qualquer forma, eu já disse que não vou fazer nada.

  E saiu porta afora com pressa. Sua mãe ficou em casa, aflita, mergulhada em pensamentos angustiantes sobre seu filho. Conforme o tempo foi passando, as preocupações foram diminuindo. Tudo corria bem. Até que sua mãe começou a ver Ébono com outras garotas. De fato, Ébono havia enjoado de seu suposto amor e cortejava várias garotas na cidade. Sua mãe tentou avisá-lo, mas ele sempre se esquivava e nada mudava seu comportamento desagradável. Então, chegou o dia em que ele se deitou com outra.
 Após o ato ser consumado, o quarto se encheu com o odor de enxofre e uma fumaça negra em forma humana. Um voz que vinha de dentro da fumaça disse:

— Ignorou minha palavra e duvidou do meu poder. Prepare-se para conhecer a verdadeira dor.

  O Deus partiu sem dar oportunidade para Ébono falar ou reagir à situação. Estupefato, seu corpo não se mexia, assim como o da garota ao seu lado na cama. E mesmo meses após o ocorrido o fato dominava sua mente, pensando como se cumpriria a ameaça.
  Os anos passaram e Ébono viveu, cresceu e apaixonou-se por uma moça chamada Rúbia. Súbita e completamente. Decidiu pedi-la em casamento. Levou-a ao jardim que ela mais gostava e pediu que fechasse os olhos. Então disse:

— Eu nunca esperei encontrar alguém como você. Que me fizesse pensar que a minha existência só tem sentido com você. Eu tenho consciência que preciso de você. Rúbia, quer casar comigo?

  Ela abriu os olhos e vislumbrou um anel de ouro no qual Ébono cravejou uma safira. Seus olhos se encheram de lágrimas. Seu coração acelerou em um ritmo que ecoava pelo seu corpo como seu todo o universo ressoasse com seu ser. Como se ela estivesse completa. Ébono se encontrava aflito pelos instantes de silêncio de Rúbia. Enquanto ela processava toda a situação em sua mente, Ébono temia pela rejeição. Então ela disse de forma suave:

— É claro que eu aceito. Eu te amo!

  Nesse instante, Rúbia foi consumida quase que instantaneamente por chamas negras. Provavelmente não houve tempo para sentir dor, pelo menos não dor física. A morte de Rúbia foi seguida por uma gargalhada infernal. Ébono caiu de joelhos e seus olhos parecia chorar sangue. Gritou com todo o fôlego que tinha enquanto se amaldiçoava mentalmente por sua arrogância. Pensou em suicidar-se, mas entendeu seu castigo e a lição que lhe foi ensinada. Ensinou aos mais jovens sobre respeito, mas sua culpa e depressão não lhe permitiram se apaixonar novamente.

  E desse dia em diante, somos obrigados a ver a morte separar os amores e derramar lágrimas de solidão.

Ramon Arcanjo